Testes de Triagem e Análises Laboratoriais para Dislipidemia
Dislipidemia refere-se a anomalias no metabolismo das gorduras, caracterizadas por alterações nas concentrações de lipídios no sangue, como colesterol e triglicerídeos. Essas situações estão frequentemente ligadas a um aumento na probabilidade de doenças cardíacas, incluindo infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). O diagnóstico inicial por meio de triagens e análises laboratoriais é essencial para o tratamento apropriado dessas condições e para evitar complicações.
Triagens para Dislipidemia
A triagem da dislipidemia tem como objetivo reconhecer pessoas com níveis lipídicos irregulares, muitas vezes antes que sintomas apareçam. As orientações para a triagem variam de acordo com a idade, gênero, histórico familiar e fatores de risco pessoais. Em geral, a dislipidemia pode ser analisada por meio de:
1.1. Perfil Lipídico (Perfil Lipídico Completo)
O teste mais utilizado para triagem da dislipidemia é o perfil lipídico, que avalia os principais elementos lipídicos no sangue, incluindo:
Colesterol Total: Avaliação da quantidade total de colesterol no sangue. O ideal é que o valor total permaneça abaixo de 200 mg/dL.
Colesterol LDL (Lipoproteína de Baixa Densidade): Popularmente chamado de "colesterol ruim", o LDL transporta colesterol para as artérias, e níveis elevados podem levar à formação de placas de gordura nas paredes arteriais, aumentando a chance de doenças cardíacas. Valores recomendados: <100 mg/dL.
Colesterol HDL (Lipoproteína de Alta Densidade): Conhecido como "colesterol bom", o HDL auxilia na remoção do excesso de colesterol das artérias. Altos níveis de HDL conferem proteção contra doenças do coração. Valores ideais: ≥60 mg/dL.
Triglicerídeos: Representam a principal forma de armazenamento de gordura do organismo. Níveis elevados estão ligados a um aumento do risco de doenças cardíacas. Valores desejáveis: <150 mg/dL.
1.2. Análise de Lipoproteínas de Alta Densidade (HDL) e Baixa Densidade (LDL)
O exame de lipoproteínas tem a finalidade específica de mensurar a quantidade de partículas de HDL e LDL presentes no sangue. Isso pode ser realizado por meio de métodos como fração de lipoproteínas ou técnicas mais sofisticadas, como ultracentrifugação.
Análises Laboratoriais para Diagnóstico de Dislipidemia
Além do perfil lipídico, outros exames laboratoriais podem ser requisitados para uma avaliação mais abrangente do metabolismo lipídico e para descartar outras condições relacionadas.
2.1. VLDL (Lipoproteínas de Muito Baixa Densidade)
As lipoproteínas de muito baixa densidade compõem uma fração que transporta triglicerídeos. Em algumas situações, a avaliação da VLDL é utilizada, embora não seja medida de forma corriqueira.
2.2. Cálculo de ApoB (Apolipoproteína B) A apolipoproteína B é uma proteína que se encontra em diversas lipoproteínas associadas à aterosclerose, incluindo LDL e VLDL. A avaliação dos níveis de ApoB pode ser útil para detectar pacientes que estão em maior risco de doenças cardiovasculares, uma vez que uma quantidade elevada de partículas aterogênicas está ligada a um aumento do risco de problemas cardíacos.
2.3. Lipoproteína (a) [Lp(a)]
A Lp(a) é uma lipoproteína que possui uma configuração similar à do LDL, porém apresenta uma proteína extra denominada apo(a). Quando os níveis de Lp(a) estão altos, existe uma correlação com um risco aumentado de aterosclerose e problemas cardiovasculares. Este teste é menos comum, sendo solicitado apenas em certas situações específicas.
2.4. Teste de Homocisteína
A homocisteína é um aminoácido que, quando encontrado em concentrações elevadas, pode prejudicar as paredes vasculares e elevar o risco cardiovascular. Apesar de não estar diretamente ligado à dislipidemia, a homocisteína frequentemente é avaliada em pacientes que apresentam maior risco cardiovascular.
2.5. Exame de Glicemia e Insulina
Mudanças no metabolismo das gorduras geralmente ocorrem junto com alterações no metabolismo da glicose. Testes para medições de glicose em jejum e insulina são importantes para verificar a presença de resistência à insulina ou diabetes tipo 2, condições que estão comumente associadas à dislipidemia.
Indicações para Testes de Rastreio
Os testes para detectar dislipidemia são habitualmente sugeridos nas seguintes circunstâncias:
Adultos com 20 anos ou mais: A orientação para iniciar o rastreio de dislipidemia começa aos 20 anos, com exames realizados a cada 4-6 anos em pessoas sem fatores de risco significativos.
Indivíduos com antecedentes familiares de doenças cardíacas precoces: Nestes casos, o rastreio pode ser iniciado mais cedo e realizado com maior regularidade.
Pessoas que apresentam fatores de risco para doenças do coração: Fatores como hipertensão, diabetes, uso de tabaco, sedentarismo e um histórico familiar de dislipidemia indicam a necessidade de um rastreio antecipado.
Tratamento e Manejo da Dislipidemia
Após confirmar o diagnóstico de dislipidemia, o objetivo do tratamento é reduzir os níveis de lipídios no sangue e, consequentemente, o risco cardiovascular. O manejo pode incluir:
Mudanças no estilo de vida: Como a adoção de uma alimentação equilibrada, aumento da atividade física e abandono do tabagismo.
Medicamentos: Estatinas (como atorvastatina), fibratos e inibidores de PCSK9 são utilizados para diminuir os níveis de LDL e triglicerídeos.
Monitoramento contínuo: Acompanhamento regular dos níveis lipídicos é essencial para avaliar a eficácia do tratamento e evitar complicações.
Conclusão O monitoramento e os testes laboratoriais voltados para dislipidemia são instrumentos fundamentais na detecção antecipada e na proteção contra enfermidades cardiovasculares. Essa estratégia abrange a execução de um perfil lipídico abrangente, exames para lipoproteínas específicas e, em certas situações, testes complementares, como ApoB e homocisteína. Reconhecer e tratar corretamente a dislipidemia é vital para diminuir a probabilidade de complicações cardíacas e aumentar a qualidade de vida dos pacientes.